Perante uma pergunta, que nos foi feita recentemente, se em português se deve usar o nome crómio ou cromo, fomos levados a elaborar a seguinte exposição.

Em Portugal, tem-se usado até muito recentemente tanto o termo crómio como cromo, enquanto no Brasil se tem usado crômio, bem como cromo.
O elemento, que mais tarde seria classificado como o elemento número 24 do sistema periódico, foi descoberto em 1794 por Louis Nicolas Vauquelin (1763-1829) no mineral crocoíte encontrado na Sibéria. Dá-se conhecimento público dessa descoberta por uma breve comunicação preliminar.i A esta segue-se em 1798 um trabalho extenso e pormenorizadoii, em que se lhe atribui o nome chrôme em francês, derivado do grego χρώμα (cor) (ver Fig. 1).

Fig. 1: Reprodução dum excerto da referência 2.

O aportuguesamento de chrôme deu origem a cromo. A adaptação à língua alemã originou Chrome à inglesa chrome. Enquanto, tanto em francês como em alemão, estes nomes ainda hoje são os únicos usados e a sua grafia não se alterou, já em português e inglês a situação tornou-se mais complexa, a partir de uma publicação do insigne químico sueco Jöns Jacob Berzelius (1779- 1848)iii. Neste ensaio, redigido originalmente em sueco e, posteriormente, traduzido em francês,

Berzelius apresenta uma lista bilingue dos elementos químicos. Na segunda coluna estão os nomes em francês. Na primeira figuram os nomes latinos, nos casos em que estes já existiam.

Além destes, como havia um conjunto de elementos para os quais ainda não se tinham proposto nomes latinos, Berzelius resolveu latinizar nomes que estavam em uso noutras línguas. Assim criou o nome Chromium, sem se sentir inibido pela combinação duma raiz grega com uma terminação latina.

Essa proposta não levou, nem os franceses, nem os alemães a alterarem os nomes chrôme e Chrom. Em inglês porém, passaram a usar-se dois nomes. Nas publicações científicas, adoptou-se chromium para nome do elemento químico, tanto para a substância elementar metálica, como para formar os nomes dos seus compostos. Na linguagem das artes e das indústrias, manteve-se até hoje o chrome, como por exemplo em chrome yellow para o pigmento amarelo usado na pintura e para tingir pele, em chrome-nickel alloy e chrome-nickel steel para as suas ligas.

Em português, seguiu-se o mesmo caminho. Embora o grande químico portuense António Joaquim Ferreira da Silva (1853-1923) tenha recomendado, invocando Berzelius, o uso do nome crómio, de preferência a cromo, no órgão oficial da Sociedade Portuguesa de Químicaiv(ver Fig. 2), ambos os nomes se mantiveram em uso em Portugal e no Brasil, embora no último caso com a acentuação crômio.

Em Portugal tem-se usado, até recentemente com muito maior frequência crómio do que cromov. No Brasil a preferência mais recente é para cromo, comparado com crômio, embora talvez de uma forma menos pronunciada.vi

Nesta conjuntura, as Sociedades Portuguesa e Brasileira de Química mandataram uma equipa de químicos portugueses e brasileiros de traduzir as regras internacionais da nomenclatura da química inorgânica editadas pela IUPAC (International Union of Pure and Applied Chemistry). vii Ora a IUPAC apenas cede os direitos de autor sobre essas regras com a condição da aprovação da tradução pelas organizações nacionais suas aderentes, pertencentes aos países com a língua oficial em causa. No nosso caso, o da língua portuguesa, os países nestas condições são o Brasil e Portugal, além de Moçambique que só recentemente aderiu à IUPAC. Quanto ao nome dos elementos, a IUPAC insiste que não se deve aprovar nomes diferentes para o mesmo elemento químico em cada língua. Isso obrigou os tradutores a chegarem a um acordo sobre esses nomes, apenas se tolerando diferenças na acentuação, quando estas decorrem de pronúncias diferentes.

Os resultados deste esforço encontram-se publicados no órgão oficial da Sociedade Portuguesa de Química.viii Dos doze autores, nove são de Portugal, dois do Brasil e um de Cabo Verde.

No caso do elemento número 24 do sistema periódico, os autoresix, perante a escolha entre crómio, crômio ou cromo, decidiram a favor de cromo, por ser o nome que é o comum, com a mesma grafia, aos dicionários de Português do Brasil e de Portugal. Além disso não existem razões etimológicas fortes contra o nome cromo.

Os pareceres das sociedades de química nacionais só vinculam a nomenclatura usada nas suas próprias publicações. No entanto, tal como a nomenclatura inglesa recomendada pela IUPAC é adotada nos documentos oficiais da Organização das Nações Unidas, da União Europeia, da Organização Mundial da Saúde, das uniões aduaneiras e muitas outras organizações internacionais, as traduções portuguesas têm sido adotadas explícita ou tacitamente pela maioria das autoridades dos países de língua oficial portuguesa e dos seus estabelecimentos de ensino, bem como pelos tradutores de português da Comissão Europeia. Por isso é de prever que o nome cromo, se acabe por tornar o termo mais usado.

Ainda que a dicionarística portuguesa privilegie a forma crómiox, na revisão em curso do novo Dicionário da Academia, e tendo em conta o acima exposto, propomos o seguinte tratamento dos verbetes:

crómio (Do gr. χρῶμά, -άτος ’cor’ + suf. –io) s. m. Quím. O m. que cromo.
cromo (Do gr. χρῶµα, -ατος ’cor’) s. m. Quím. Elemento químico metálico (símb. Cr, n.º at. 24, m.
at. rel. 52,00), de cor cinzenta ou prateada, resistente a corrosão e a oxidação, utilizado sobretudo em ligas com outros metais.

Lisboa, 19 de janeiro de 2011

Bernardo Jerosch Herold & Ana Salgado

 i Vauquelin, Journal de Physique, de Chimie, d’Histoire Naturelle et des Arts, 1794, 2, 393-395,
Mémoire sur un nouvel Acide métallique qui existe dans le plomb rouge de Sibérie.
ii Vauquelin, Sur une nouvelle substance métallique contenue dans le plomb rouge de Siberie et qu’on
propose d’appeler Chrôme, à cause de la propriété de colorer les combinaisons oú il entre. Annales de
Chimie, 1798, 25, 21-31, Second mémoire sur le métal contenu dans le plomb rouge de Sibérie, ibid.
1798, 25, 194-204.

iii J. J. Berzelius, Essai sur la théorie des proportions chimiques et sur l’influence chimique de
l’electricité, Méquignon-Marvis, Paris 1819.
iv A. J. Ferreira da Silva, Notas sobre a nomenclatura portugueza dos elementos, compostos e funcções
chimicas, Revista de Chimica Pura e Applicada, 1905, 1(9), 401-404.
v
a) Regras de Notação e Nomenclatura Químicas — Tradução, Prefácio e Notas de Rómulo de
Carvalho, Revisão Filológica de J.I. Louro, Instituto de Alta Cultura, Lisboa, 1950. b) U.I.Q.P.A.
Secção de Química Inorgânica, Nomenclatura da Química Inorgânica, Relatório da Comissão de
Nomenclatura de Química Inorgânica,1957, tradução de J.O. Cabral, Anais da Faculdade de Ciências
do Porto, 1962, 44 , 1-72. c) U.I.Q.P.A. Secção de Química Inorgânica, Nomenclatura da Química
Inorgânica, Relatório da Comissão de Nomenclatura de Química Inorgânica, 1957, tradução de C.M.
Pulido, F.C. Barreira, R.S. Leal, J.J.R. Fraústo da Silva, M. Inês Valente Soares, Revista Portuguesa de
Química, 1965, 7 , 32-63.
vi R.C. Rocha-Filho e A.P. Chagas, Sobre os nomes dos elementos químicos, inclusive dos
transférmios, Química Nova, 1999, 2(5), 769.
vii N.G. Connelly, T. Damhus, R.H. Hartshorn, A.T. Hutton, Nomenclature of Inorganic Chemistry,
IUPAC Recommendations 2005, Royal Society of Chemistry Publishing, Cambridge, 2005, 378 p.
viii Adélio A. S. C. M. Machado, Bernardo J. Herold, João Cardoso, Joaquim Marçalo, José Alberto L.
Costa, Maria Clara Magalhães, Maria Helena Garcia, Olivier Pellegrino, Osvaldo Serra, Roberto B.
Faria e Rui Teives Henriques, Os nomes dos elementos químicos, Química Boletim da Sociedade
Portuguesa de Química, 2010, 119, 43-48.
ix Adélio A. S. C. M. Machado, Bernardo J. Herold, João Cardoso, Joaquim Marçalo, José Alberto L.
Costa, Maria Clara Magalhães, Maria Helena Garcia, Olivier Pellegrino, Osvaldo Serra, Roberto B.
Faria e Rui Teives Henriques, Os nomes dos elementos químicos, Química Boletim da Sociedade
Portuguesa de Química, 2010, 119, 43-48.
x Cf. DLPC-2001 Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea da Academia das Ciências de
Lisboa, Lisboa: Academia das Ciências de Lisboa / Editorial Verbo, 2001; PE-2015 Dicionário da
Língua Portuguesa com Acordo Ortográfico [em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2015. [consult.
2015-12-16]; Priberam Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2015. [consultado
em 16-12-2015. No último dicionário, não há indicação de preferência porque os verbetes apresentam
definição nas duas formas.

Vocabulário da Língua Portuguesa é um dos recursos lexicográficos de referência da Academia das Ciências de Lisboa. Embora se tenha tomado como base de partida os anteriores vocabulários académicos, este vocabulário digital foi elaborado inteiramente de novo.

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